Dê uma chance

Reza a lenda que, para o cachorro, cada dia que passa, equivale a sete dias na vida humana. História antiga essa e comprovada apenas com pequenos cálculos e regras de três entre a nossa vida e a do quadrúpede.

2011 foi um ano de cão: valeu por sete. Para mim, foi um ano extremamente múltiplo por motivos pessoais, profissionais, mundiais e metafísicos. O Japão dos meus amigos sacudiu, o oriente médio de outros virou a mesa, a Europa se manteve segurando as pontas enquanto pode, no Brasil os professores pediram socorro, Neymar e Anderson  engordaram os bolsos. Pessoas fizeram coisas que nunca tinham feito antes! Muitas amigas se casaram, outras deram a luz e eu joguei um bolinho de queijo pela janela do restaurante. O mundo que era dos nuncas, mudou para sempre. Na minha pequena caminhada, deixei de ser estagiária. Formei. Passei na OAB.  Assisti a Filarmônica de Berlim! Mandei flores para as avós na primavera. Rolei na grama da praça de madrugada. Apanhei, mas apanhei com força da vida de adulta. Fiquei sem dormir, tive pesadêlos, espamos musculares, falta e excesso de apetite.

Na minha lista de nuncas veio mais uma surpresa. Levei um susto com a repercussão do último texto. Foram 740 compartilhamentos e contando! Adorei os comentários e e-mails recebidos. Impressões e expressões trocadas, o que eu vejo é que a maldade já se promove demais. A gente não precisa dar mais publicidade a ela. Tem alguém aí que não sabe que o horror existe? O mundo anda tão tendente à morbidez… as pessoas preferem se reunir em torno de uma briga na calçada a assistir palestras gratuitas do outro lado da rua. Fora que a mão que compartilha a foto do bichinho machucado é a mesma que curte o rodeio de Barretos, né. Não vamos forçar a amizade.

No mundo dos sempre já há tanto jeito de estimular as boas ações que não com o velho discurso da tragédia de entretenimento. Olha as intervenções urbanas! As campanhas publicitárias pela tolerância, as pequenas ações do cotidiano como levar ração na bolsa e ajudar catadores de latinha (sim, faço isso). São tantas músicas, vídeos, textos, palestras, livros, crianças para educar… Tem tanta ONG precisando desses revolucionários de facebook… Não é difícil descobrir alternativas criativas.

Violência gera violência. John Lennon costumava pedir uma chance para a paz. Era tudo que ele dizia, ele dizia! Não custa muito. Vamos tentar! Enquanto isso, as denúncias tem sim seu lugar, cabimento e forma. Na imprensa e internet, devem ser informativas muito mais que apelativas como tenho visto. Além disso, e principalmente, devem ser explícitas e detalhanas no judiciário e também no legislativo e no executivo. A gente tem que ser mais ativo com essa galera. Damos muita moleza para todos eles.

Mas eu confio que cada um esteja fazendo o máximo que consegue. Eu estou.

Ia dizendo que neste ano penei demais com essa brincadeira de ser gente grande. 2011 foi um ano múltiplo. Estou me repetindo. E foi mesmo. Um para sete. Um para oito… nove. Meu ano valeu por dez.

Hoje, quando chegou um e-mail do cliente agradecendo pela dedicação, tive ímpetos de dançar. Trabalhar muito é ainda o jeito que temos de conquistar uma vida digna. Outras opções não fazem parte da minha realidade. Somos 7 bilhões no mundo. A concorrência está aí. Tudo tem que ser muito suado nesse país que eu estou existindo. E posso garantir assim que, embora eu tenha o sono eternamente atrasado, mantenho meus sonhos em dia.

Meu cliente me agradeceu. Meu chefe ficou feliz. Meu cachorro me recebeu pulando. E um gato comeu o bolinho de queijo que achou na rua. As coisas estão caminhando e eu não posso reclamar.

“Missão cumprida” – ela disse. Amanhã começa de novo. Dê uma chance para a paz. Is all we are saying!

Feliz 2012.

Mais:

Projeto Focinhos

Leis Brasileiras de Proteção aos Animais

Vote na Web

Museu da Corrupção

Excelências

Somente boas notícias: por um mundo mais feliz

365 nuncas (um dos meus blogs preferidos! Sentirei saudades!)

Ps. A imagem que ilustra esse texto é uma produção do grande Marcel Marlier, um senhor belga que ilustrou todos os livros da coleção infantil das aventuras da pequena Martine (traduzida para “Anita” em Português). Ele faleceu no início deste ano e quase ninguém ficou sabendo. Os jornais estavam ocupados demais com outras notícias…

3 Respostas to “Dê uma chance”

  1. Leonardo Petró de Oliveira Says:

    Ótimo texto de final de ano. Como estudante de Direito, compartilho de muitas experiências suas. Esse ano valeu por sete, oito, nove… Feliz Ano Novo para todos nós!

  2. Hadassa Says:

    “Fora que a mão que compartilha a foto do bichinho machucado é a mesma que curte o rodeio de Barretos, né. Não vamos forçar a amizade.”

    Não julgue os outros por você moça.
    As vezes sinto-me indignada de pertencer a essa especie, mas como não tenho poder de escolha, pelo menos posso usar meu direito de voz e voto para gritar bem alto pelos que não possuem esse direito.

    Lastimo pela falta de humanidade dos humanos…

  3. amsnetbr Says:

    Excelente post. Morei muitos anos em cidade grande(RJ) e hj morando no interior de SP vejo que o ambiente que vivemos acaba nos levando a ser o que nao sonhamos…

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