Há alguns anos fiz um rápido intercâmbio no Canadá e conheci a Nina. Moça linda, carioca, bilíngue e engenheira! Nina era de fácil trato, discreta e a melhor em senso de orientação para pegarmos metrôs, trens e ônibus.
Quando Nina voltou para o Brasil, não tivemos muito mais contato que através do facebook, mas hoje ela publicou um relato que me chamou atenção. Pedi autorização para divulgar aqui e ela concordou.
Hoje faz 5 meses que estou desempregada. Inicialmente achei que esse período fosse durar pouco, uns 3 meses máximo, afinal era final de ano…. mas 2013 chegou, o Carnaval passou e até agora, nada!!! Tudo bem que já fiz algumas entrevistas, a maioria com empresas de recrutamento e seleção.
O que mais me chama a atenção não é a falta de oportunidades, mas a falta de respeito dos recrutadores/entrevistadores. Na hora de marcar a entrevista, é sempre pra ontem, mas na hora de dar o resultado, positivo ou negativo, (no meu caso todos negativos) apenas 10% se preocupa em mandar um e-mail informando que você não foi selecionado para aquela vaga. O restante, bem… se já passou mais de uma semana, é sinal de que não vai rolar. Mas eu fico me perguntando, o que que custa mandar um e-mail? É melhor do que simplesmente deixar no ar.
Outra coisa espantosa é o fato de diversas mídias informarem que sobram vagas para engenheiros, principalmente em O&G, mas não é bem o que estou sentindo. Até agora só fiz 1 entrevista para cargo de engenheiro, e olha que eu tenho quase 5 anos de formada, um mestrado. Tudo bem que nunca trabalhei como engenheira, mas eu aceito um cargo de júnior… Será que pra entrar como júnior também são necessários 5 anos de experiência na área? Pois é isso que eu estou sentindo.
Quando a gente vê notícias no jornal e na internet como “Sobram vagas, faltam funcionários”, a sensação que dá é que o tempo é de colheita farta no Brasil. Mas eu tenho a seguinte impressão: Sobram vagas para recém-formados, para ganhar R$1500,00 reais por mês, faltam vagas para pessoas fora do padrão do mercado. Nada contra ganhar um salário desse quando se é recém-formado. Nada contra. Mas se uma pessoa com 5 anos de formada e mestrado se interessa pela mesma vaga. Ela vai ser cortada porque há um entendimento de que ela não deveria estar lá.
Uma vez, fui fazer uma entrevista numa grande revendedora de eletrodomésticos. Eu era recém-formada em Publicidade. Eles me deixaram 6h esperando entre uma entrevista e outra. Sem comer e sem beber nada. Na hora da entrevista, a antipatia da mulher falou que, como meu pai era engenheiro, eu não precisava trabalhar… Primeiro que ele estava aposentado, segundo que ele sempre foi um engenheiro simples. Terceiro que se ela me falasse isso hoje em dia, eu seria muito mais enérgica do que fui na época. É uma falta de respeito e uma forma de preconceito pensar que por causa do trabalho do seu pai ou mãe, você vai ou não trabalhar. E, claro, eles nunca me ligaram para falar que eu não consegui a vaga. A única empresa que me ligou na época para falar que não passei, mais pra frente, foi a empresa em que fui fazer meu primeiro estágio de Direito e que sempre me tratou bem.
Em uma outra entrevista, porque a entrevistadora descobriu que eu gostava de música e cinema, ela disse que eu iria detestar o trabalho.
Não gosto da postura de vítima, de odiar as empresas (grandes ou pequenas) e de se colocar como o funcionário explorado o tempo todo. Mas, de fato, há muito desrespeito que deve ser curado neste mundo. Tanto da nossa parte, quanto da parte deles. Afinal, trabalhadores somos todos!
Com o tempo, cheguei a estabelecer alguns cuidados para entrevistas de trabalho. Não significou que eu tenha conseguido o melhor emprego do mundo, mas significou que eu perdi menos tempo e me senti mais autêntica num momento em que todo mundo é meio obrigado a se padronizar, mas mesmo assim, veja só, temos que tomar cuidado:
1) Não corrija o entrevistador. Uma vez, eu não resisti, e corrigi uma coisa da moça que estava tentando me retrair falando de um jeito todo errado. Resultado: nunca mais me procuraram. Por mais antipática que a entrevistadora seja, tenha paciência.
2) Eu admiti pra mim que seria sempre uma boa idea levar meu currículo impresso, mesmo que já tivesse enviado por e-mail. E tinho dois currículos. Agora três. Um para coisas de Direito, um para coisas de Comunicação e agora um para coisas da França. (já aconteceu de eu confundir eles e nunca receber resposta de recrutador por conta disso)
3) Passei a levar um livro para ler na sala de espera das empresas, porque geralmente te fazem esperar. Mas, antes contava quantas pessoas felizes entravam para trabalhar lá.
4) Quando já estava trabalhando e procurando outro emprego, não esperava mais de 35 minutos para uma entrevista de emprego. Se o entrevistador não se interessou por você até lá, poucas serão as chances de ele te contratar. Curiosamente, na única vez que deu mais de 35 minutos e fui embora, eu fui contratada mais tarde! (este item só pode ser praticado quando você já tem outro trabalho, caso contrário, o risco é maior!)
5) Algumas perguntas são previsíveis demais. Assim como as respostas. Acho que vale a pena pensar nas perguntas e nas respostas que daremos bem antes da entrevista. Perguntas típicas: Por que saiu do seu último trabalho? (Não reclame do seu último empregador com o futuro. Nunca!); Quais os seus maiores defeitos? (Acho essa pergunta ridícula, mas ela é uma das mais comuns.Também acho que o entrevistador sabe que a gente vai pegar leve com nossos próprios defeitos); Quais as suas maiores qualidades? (pense bem nas suas qualidades); Qual foi o maior desafio profissional que você já encarou? (e qual foi?).
Perguntas atípicas que já ouvi: “Você tem namorado?”; “Você tem irmão?”; “Você gosta de beber?”; “O que você faria se todo mundo da empresa saísse e você ficasse sozinha para resolver um problema que você não sabe resolver?”(dã, eu ligaria para alguém que sabe!)
6) Uma vez, numa entrevista para uma especialização na UFMG, antes de finalizar, eu pedi licença para falar uma coisa. E falei. Depois vi que muita gente que tinha tentado a especialização, não tinha passado e eu tinha passado. E eu passei. E não era pelas minhas notas ou pelo meu currículo. Eu acho que o que me fez passar mesmo, foi o meu último comentário, que foi sincero, mas foi uma observação que percebi que me abriu as portas. De repente, vale a pena fazer isso, se sentir que é o caso, e falar de algo sobre você que não foi perguntado, por exemplo se você fala mandarim, se faz trabalho voluntário ou se toca piano, sei lá, tudo pode ser válido!
7) Depois de algumas entrevistas que ficaram sem resposta, comecei também a fazer perguntas ao entrevistador sobre o trabalho, sobre o salário e até sobre a postura com o cliente. Oras, qual o problema de perguntar coisas que são importantes para nós mesmos? Vi algumas reportagens que falam para a gente não perguntar o salário. Mas não concordo. Se a vaga está em aberto, o salário deve ter sido estabelecido e deve ser divulgado para o candidato, assim como os benefícios.
Existem zilhões de livros sobre o assunto. Nunca foi minha leitura preferida, mas pode ser uma outra boa dica. Estar preparado é importante. E mostrar-se preparado também. Um problema é medir até onde você está mostrando o que sabe fazer e onde você começa a ficar insuportavelmente vaidoso. Outro problema é encarar esse desrespeito dos recrutadores se você não faz parte dos moldes que eles estão esperando. Entendo e vivo isso também. Estou aqui na torcida, povo! Que os bons, como a Nina, encontrem seu lugar!
“Nem que seja para fazer alfinetes, o entusiasmo é indispensável para sermos bons no nosso ofício.”
Denis Diderot
Tags: desemprego, trabalhadores, trabalho
1 abril, 2013 às 1:13 pm
Fiquei curiosa quanto ao comentário feito na entrevista para especialização na UFMG.
Parabéns pelo post!
Bjo
1 abril, 2013 às 4:16 pm
Nossa, que postagem adequada e perfeita. Parabéns!
23 maio, 2013 às 2:39 pm
O relato é em interessante e diz muito.
23 maio, 2013 às 2:40 pm
O relato é em interessante e diz muito sobre a situação. Agora terminei o comentário. Grato.