É. Não sou um gênio.

Quando eu era adolescente, adorava minha aula de música. Comecei estudando flauta e daí parti para o estudo de piano. Fiquei tão empolgada que comecei a estudar muito o tema. Tanto que consegui aprender algumas músicas num tempo um pouquinho mais ligeiro que o esperado pela professora.

Com isso, a professora e talvez mais uma outra professora, começaram a dizer que eu estava indo muito bem, que era uma boa aluna. Coisas que deveriam soar como um estímulo, mas na minha cabeça soaram como “uau, você é um gênio da música”. Eu comecei a suspeitar que a parte do meu sangue europeu trazia a herança de algum grande compositor alemão ou austríaco. Comecei a acreditar mais no meu potencial para ser uma grande pianista que no meu potencial para aprender a tocar um pouco melhor. Assim, o estudo da música, embora não tenha se extinguido, ficou diferente. Era um estudo envaidecido. Não era para ficar melhor, era para mostrar como eu era boa.

Então, nessa empolgação, entrei também pra aula de violão. Esta, foi um fracasso. Eu aprendi a tocar algumas músicas. Uma ou outra, mas nunca rendi muito. A professora nunca disse que eu estava indo bem. Pelo contrário, com a maior boa vontade do mundo, ela tentava me fazer enxergar que eu, verdadeiramente, tinha que estudar.

Fiquei frustrada. E pensei que talvez a minha genialidade não estivesse mais na música, mas na escrita, outra coisa que me agradava. Saí da escola de música (que até hoje guardo saudades imensas), fui pra faculdade de Publicidade. Lá pensei ter me encontrado. Prova de Português, total. Prova de Redação, total. Prova de Projeto Gráfico, média. Ah, mas eu já estava satisfeita em ser genial na redação.

Foi quando comecei a estagiar e levei vários puxões de orelha com meus textos. Mais tarde, trabalhando como redatora numa agência, outros puxões de orelha, dessa vez, mais doídos. Como o  salário já não era bom nada (isso quando tinha), comecei a estudar pra concurso e aí veio a vontade de conhecer mais o Direito.

Como gostei do tema, cogitei: “vai ver que sou um gênio do Direito!”. Deste pedestal não foi difícil cair. As primeiras provas e os primeiros dias de estágio na área me mostraram que eu também não tinha nascido pra coisa. Mas e aí? Eu iria desistir de tudo e procurar até encontrar aquilo em que fosse realmente perfeita. E se não fosse em nada?? Ah, mas a vaidade da gente custa pra aceitar que podemos não ser muito bons em nada e que é bem possível que tenhamos que nos esforçar se quisermos fazer algo direito.

Como continuava achando direito legal, continuei seguindo. E lutei um pouco mais. Agora estou matriculada no último período! Doida para formar e estudar mais, coisas mais específicas, porque acho que ainda posso fazer muito. Trabalhar em coisas para as quais eu não nasci. Tudo bem, faço com gosto!

O meu piano continua ali na sala, me chamando para tocar todas as 5 músicas que sei e adoro!

Outro dia, encontrei uma ex-colega da aula de música. Ela havia começado depois de mim, e foi, aos poucos, conquistando seu espaço. Contou-me que tinha se tornado pianista profissional, que já tinha morado na Europa e se apresentado em diversos festivais. Da minha parte, contei que sou estagiária até hoje, mas que estou aprendendo muito com isso e um dia, se ela precisar, poderei defendê-la num tribunal.

6 Respostas to “É. Não sou um gênio.”

  1. Emerson Martin Amin Junior Says:

    Nós enquanto seres humanos possuímos uma capacidade incrível de adaptação, moldamo-nos de acordo com o meio em que vivemos e desenvolvemos habilidades que talvez não desenvolvêssemos em outro ambiente, ou seja, em outra época ou região. Portanto, independente da escolha que fizermos iremos chegar ao êxito trabalhando com amor e determinação. Tolerância e respeito as diferenças é a chave para o sucesso uma vez que nenhum de nós somos perfeitos. Estamos em um constante aprendizado uns com outros nisso que chamamos de Vida. ;D
    “A diferença entre o possível e o impossível está na vontade das pessoas.”
    Louis Pasteur

    Parabéns seus posts são muito bons! Começo esse ano o curso de direito na UEMG- Frutal, e este blog já me ajuda muito!

  2. Vinícius Maia Says:

    Engraçado, cheguei por um acaso ao seu blog e dei de cara com essa postagem que me serviu com uma luva.
    Também muito me deixei levar pela vaidade e também muito perdi por tentar capitular a vaidade de outras pessoas.
    O que ficou foi o aprendizado e a vontade de dizer, a mim mesmo, tudo o que você escreveu claras linhas.
    Seu texto, embora profundo, foi escrito de forma clara e despida de muitas amarras que carregamos. Penso que o mais difícil na vida é adquirir o autoconhecimento.
    Agradeço pela leitura. Você fechou o meu dia com chave de ouro.

    Abraço.

  3. Didi Says:

    Prezados Emerson e Vinícius, vocês mandaram comentários que me fizeram muito bem. Obrigada! Muito obrigada!

    Voltem sempre!

  4. Érika Bahia Says:

    Didi, tudo bem? Quantas e quantas vezes eu me questionei, em que sou boa mesmo? Nasci com algum talento? E custei para aceitar que podemos não ser muito bons em nada e que é bem possível que tenhamos que nos esforçar se quisermos fazer algo direito. Ai, a vida, sempre nos pregando peças. Adorei o texto. Beijos e feliz 2011, Érika Bahia

  5. Didi Says:

    Érika! Que saudade de você. Outro dia estava lembrando dos nossos primeiros períodos. hehe! Tá sumida! Como está o curso? Feliz 2011 também. Obrigada pelas palavras!

  6. Genius* Says:

    temos sempre que lembrar o que queremos fazer por ultimo
    porque os sub-desejos demoram para serem comprido
    e quando chegamos a ele esquecemos o porquê
    (Nâo existe final feliz,porque o final nâo existe)
    (Pense em AMANHÂ nâo no amanhã)
    Genius*

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