Criança não entende advogado, às vezes, nem adulto

De pequena, estranhava essa coisa de todo mundo ter que ter um advogado para se defender. Acho que nem era a única criança a questionar os filmes e os jornais. “Ora, por que o cara não fala que não foi ele e pronto?”. Me parecia que advogado era coisa de gente culpada. Se você não tem culpa no cartório, é só falar que não foi você. Se tem, aí precisa de alguém pra tirar de dessa.

Com o tempo fui vendo que o trabalho do advogado não se resumia a dizer de quem é a culpa. Mas sim a indicar a condução da lei, que quase ninguém, além dele, sabia como funcionava.

Mas por que quase ninguém sabe nada sobre as leis? Por que ninguém sabe o que é litispendência, litisconsórcio, revelia etc?

Hoje a resposta que me vem em mente para esse tipo de pergunta é a mesma para “por que professores ganham tão mal?”, “por que policiais são tão desvalorizados?”. Ora, porque não há interesse. Porque as pessoas que a gente escolhe para mandarem na gente, não querem que a gente mande nelas. Para isso, basta manter um país de semi-analfabetos, uma fiscalização corruptível e os conhecimentos em uma pequena parcela da sociedade. Sem novidades.

Eu nunca engoli a idéia da gente ter aulas elaboradíssimas de química e sair da escola sem noção sobre o imposto que pagamos sobre nossos xampus. Ou achando normal nunca ter guaraná, nem suco natural num barzinho dominado pela coca-cola.

Daí, se nos ocorre algum problema, temos que contratar um advogado. Porque é ele que, na teoria, vai saber nos livrar dessa. Claro, nem sempre dá certo. A minha amiga foi batida por uma moto e o motoqueiro se fez de coitado e levou a melhor. O princípio da verdade real nem sempre se faz presente. Aliás, que tipo de princípio surge nesse caso? Do quem leva mais?

Nos tempos atuais, eu até gosto de muitos advogados. Aspiro ser como vários. Mas, convenhamos, tem gente que enoja a profissão.

No Juizado Especial, se sua causa é de até vinte salários mínimos, não precisa de advogado. Ficaria mais ou menos como nos sonhos das crianças. Mas experimenta lutar contra alguém com um superadvogado pra ver no que dá… A ignorância humana fala mais alto e é fácil ser convencido por palavras pomposas quando nem se sabe quem é o juiz, quem é o conciliador, quem é o advogado da parte.

Lendo um texto da Juliana Cunha, observei que não sou a única a achar que se é pra ter advogado, que seja do lado da lei e não necessariamente da defesa a qualquer custo. Sei lá. Isso não me traria muitos convites de empregos, né?! Fora que a lei está aí pra ser interpretada. E por que cabeças? As mesmas que sugam a coca-cola dos modelos de garrafinhas vintage?

mais:

Texto: O Tribunal do Cachorro

Ui!

6 Respostas to “Criança não entende advogado, às vezes, nem adulto”

  1. Mariana Says:

    Olá,estou terminando o ensino médio este ano e pretendo fazer Direito. O seu blog é sensacional… li boa parte do que você escreveu e só me fez ter a certeza do que eu quero pro meu futuro. Muito obrigada mesmo pela iniciativa.

  2. Didi Says:

    Mariana, você não sabe o quanto alegrou meu dia! Obrigada por ler com tanta generosidade. Boa sorte com seu curso e volte sempre!

  3. Andréa Says:

    Oi, eu estou cursando direito e adorando, porém sempre me questionei sobre a linguagem quase arcaica usada nos documentos jurídicos e em alguns livros como Miguel Reale (excluindo os jargões da profissão, já q cada uma tem o seu), um texto para ser culto não é necessariamente incompreensível, acho q isso influi um pouco no não entendimento do mundo jurídico, apesar de achar q se a globo usar 2 min. do seu tempo diário para informar o cidadão de algum direito esse quadro mudaria. Mas pra que um cidadão consciente na sociedade, não é verdade [ironia]?

  4. Wanderlei Oliveira Souza Says:

    Em primeiro lugar cumprimento a nobre colega, inalteço-a pela coragem de escrever o que pensa, pois, só quem diz é que ouvido, não interessa o ue.
    Dra. sua tese ficou um pouco misturada, ou seja, não se sabe se és contra o profissional ou se és contra o Direito.
    Pois bem, o direito é uma Ciencia e Advogar é uma Arte, não existe o grande advogado, e sim, aquele que tem o dom da imterpretação da lei que é igual para todos e assim sabe usa-la de conformidade com cada caso que lhe é apresentado, ter apenas uma carteira da Ordem não e significa ser Advogado, ela apenas da o direito de usufruir legalmentda pr

  5. Wanderlei Oliveira Souza Says:

    legalmente da profissão, o direito tem várias sub divisões, como o Código que determina o direito e o Código de Processo que determina como utilizar a lei,ora, o que a nobre colega mencionou acima em seu tetorial é processo, pois, fazem parte de recursos etc, precisamos entender que como um engenheiro que constroi um prédio só com areia, um médico que não distingue um coração de um rim, um quimico que não sabe o que é um acido sulfurico etc, temos profissionais de todos os niveis.
    O que as pessoas precisam entender é que o mundo evolui as profissões tambem, a pessoa precisa gostar do que faz e sempre continuar estudando no nosso caso, aprende técnicas de escrita e estudar sempre, evoluir com o mundo e sua tecnologia. Em sumaDranossa profissão é linda e maravilhosa, simplesmente uma arte absolva e orgulhe-se e diga sou Advogada e não Adivogada.Receba os meus cumprimentos e os meus sinceros e devotados apreço e respeito Nobre Colega

  6. Didi Says:

    Olá, Dr. Wanderlei!

    Desculpe se o texto pareceu confuso, mas não sou contra nenhuma profissão honesta, tampouco o Direito. Afinal, como eu iria fazer um blog com um título desses de fosse contra?
    O que questiono é a ignorância geral sobre o processo e as leis. Penso que muitos advogados são admiráveis (como já disse no texto), mas quando não o são, o leigo não pode ser lesado por isso.

    É por isso que criança não entende a exigência de advogados. E minha amiga que se deu tão mal num processo tão simples também não. Ela estava mais que certa na experiência que viveu e a advogada da parte contrária conseguiu subverter tudo, enquanto seu advogado nada fez. Isso é triste. E isso motivou meu texto.

    Obrigada por seu comentário. E visite sempre!
    Atenciosamente,
    a autora

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